Paulo Camelo

Poesia é sentimento. O resto é momento.

Textos


Nas casas do interior

Tomando a água fresquinha,
eu mato essa sede insana,
e muitas vezes se ufana
de frescor essa quartinha.
Uma agua pura... purinha,
um gosto de barro, a pôr
um maior gosto de amor
num gesto simples, de fato,
uma vida junto ao mato
nas casas do interior.

Existe casa na praia
com janela para o mar,
gozando a luz estelar,
num céu rendado a cambraia.
Fica lá na Marambaia
essa casa que é um amor.
Não é minha, não, senhor,
porém poderia ser.
Gosto muito de viver
em casa do interior.

Cantei cantiga de roda,
escutei conto de fada,
dei beijos na minha amada,
e até inventei a moda,
mas eu sei que não é fácil
sustentar o destemor
de viver sem ter pavor
de duende ou Pererê.
Mas vou mostrar pra você
na casa do interior.

Na noite de São João,
comendo milho e canjica,
a família toda fica
ao redor do barracão
soltando fogos. Na mão
gostoso pé-de-moleque,
a esperar que a goma seque
pra fazer a tapioca.
A mandioca traz o fervor
nas casas do interior

O menino pelo mato
atira com seu bodoque.
O seu pai, do corrimboque
masca o seu fumo, e no prato,
bebendo que nem um gato,
com mel de furo e licor
um gostoso lambedor.
a canjica e o munguzá,
ficavam no alguidar
da casa do interior.

Eu fui testando, testando,
e não achei solução.
Andava na contramão,
mas não sabia até quando.
Vi andorinhas em bando
voando e fazendo amor,
vi também um beija-flor
bicando a rosa amarela,
tudo isso da janela
da casa do interior.

Tem fogão que queima lenha,
com chaminé, tudo mais,
tem um lampião a gás,
uma novilha já prenha, (prenhe)
uma mata além, lá na brenha,
e a capoeira limpinha...
No quintal, muita galinha,
criada com muito amor...
Na casa do interior
tem tudo isso... inteirinha!

Eu vi estrela cadente,
um atoleiro no chão,
eu vi raio, eu vi trovão,
tomei banho na nascente
andei pra trás e pra frente,
esperei a guiné pôr
os ovos com todo amor
e fui tirar co'a colher.
É isso que a gente quer
da casa do interior.

É bonito, eu sei que é,
falar de coisas da mente
e sentir que, de repente,
a coisa já toma pé,
pega um ramo de sapé
e começa a fazer teia
pra cobrir parede-meia
e dormir com nosso amor
na casa do interior
de carinho toda cheia.

E esse chão cheio de estrelas
- Silvio Caldas já cantou -
uma chuva salpicou
e eu não consegui mais vê-las
e, não as vendo, não tê-las
foi meu problema, senhor!
Eu fiquei com meu amor
agarradinho num canto
encoberto com um manto
na casa do interior.
Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 23/05/2013
Alterado em 23/05/2013


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras