Paulo Camelo

Poesia é sentimento. O resto é momento.

Textos

Caco de vidro
“Não meta a mão, que se corta.
É caco de vidro só.”

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Se você chegar à porta
e alguém de pronto a fechar,
cuidado pra não tocar.
Não meta a mão, que se corta
ou fica com a cara torta
e doendo a fazer dó.
Não arrebente o gogó
nem sente no seu batente.
Ele tem vidro somente:
é caco de vidro só.

Mas, se você não se importa
e quer entrar mesmo assim,
faça o favor, vá por mim:
não meta a mão, que se corta.
E veja se se comporta!
Eu estou ao seu redor
pra lhe bater com cipó
de deixar roxo o seu braço.
O que ficar nesse espaço
é caco de vidro só.

Não pense que é letra morta
a ameaça que eu lhe fiz.
Se você quer ser feliz,
não meta a mão, que se corta.
Eu sou assim. Não me importa
o seu desejo. É melhor
pegar a pedra de mó
e afiar logo a navalha.
O fim de todo canalha
é caco de vidro só.

Não plante na sua horta
urtiga branca. É ruim.
Na roseira do jardim
não meta a mão, que se corta.
E no batente da porta
- é bom lembrar - é melhor
não se sentar. Dê um nó
na sua perna, bem dado,
estanque o sangue, e cuidado!
É caco de vidro só!

06/12/2002
Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 20/04/2005


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