Carta a um ancestral
Carta a um ancestral
Paulo Camelo Permite que te escreva. Não te conheci mas te admiro. Não te conheci assim como nenhum de teus descendentes netos, bisnetos, trinetos.. Por não me conheceres, talvez estranhes. Estranhes a ousadia, o tratamento, a grafia, estranhes o mundo se eu te contar a quantas o progresso nos levou. Sim, o progresso. Teu ideal, aquele progresso que perseguiste, alimentaste, ajudaste, não o reconhecerias. Desculpa também a grafia com a qual me comunico, se estranhas a ausência daquelas consoantes mudas, dos dígrafos hoje modificados. Perdoa também o tratamento, meu falar intimista, todavia respeitoso. É que o mundo de hoje nos leva a isso. Hoje estou a te escrever como um filho teu talvez não ousasse, quando aqui tu estavas. Não entendas com isso que eu te imaginaria um tirano. Tu não o eras. Mas a vida é finda, teus ideais e projetos contigo sepultados. No teu pouco viver, porém, criaste e transformaste, amaste e foste amado. Na cidade e no campo, entre as casas ou entre os canaviais, iluminando as ruas ou semeando as várzeas, foste sempre o tão inesquecível Urbano. 16/01/1987
Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 06/05/2005
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