Tempo-será
O uso da essência da palavra é uma característica dos poemas de Nilza Azzi (que eu estava acostumado a chamar Bartira). Nilza usa (e às vezes abusa de) as palavras e os sons para expressar as ambiqüidades de seu uso, apoiando-se no estrato fônico para transmitir / interpretar sentimentos que estão escondidos (muitas vezes não ditos), mas que afloram nas entrelinhas (talvez pudesse ser dito: nos entressons) e vão além das meras palavras que constroem poemas. Aliado a isso, o uso da métrica é uma perseguição constante, e os dois estratos - rítmico e fônico - aparecemem seus poemas (sonetos em sua maioria) como pilares fortes em suas construções. E nessa métrica varia o ritmo. Não só os decassílabos heróicos e sáficos são utilizados em seus sonetos. Ela lança mão de martelo agalopado, gaita galega, galope à beira-mar, alexandrino e, não satisfeita, vai à cata de ritmos atípicos - mas ritmos -, apresentando outras formas, dentro das métricas usadas, fazendo muits vezes combinações de peônios, o que dá uma característica deslizante em seus poemas. Ora, a métrica é escrava do ritmo. Assim advogo eu. E o que ela faz com tanto ritmo diferente em tão parca métrica? Talha o ritmo como uma variante da expressão que infunde (e difunde) nos poemas, traduzindo os sentimentos em ritmos e sons. Outra característica em muitos de seus poemas é a continuação, no início dos textos, de pensamentos não expressos, porém perfeitamente entendidos no desenvolvimento dos seus temas. Assim é que ela inicia com conjunção... “... e se escrevo um poema e digo tudo que há dentro de mim e me consome,”... (Tudo) ou com advérbio... “... então pensei assim, como se faz para escrever um verso e dizer nada?” (Nada) Mas, mesmo variando tanto em ritmo e em sons, mesmo lançando mão de formas heterodoxas de se construir frases, o estrato de seus poemas é um enorme sentimento, que alguns menos avisados dizem só se apresentar com rimas pobres, mas que é riquíssimo em som, expressão e beleza: o amor. O amor ao parceiro (passado, presente ou futuro), ao ambiente, ao semelhante. Enão há a necessidade de utilizar tal palavra, de procurar rima (pobre ou rica) para que tudo gire em torno do amor: “Foi busca constante a razão de uma vida e a luz que encontrei fez-se em dura visão de sonho esperado e das fontes de então, por onde jorrou a leveza e a grarida.” (Dizer adeus) Numa forma de relaxamento, de contraponto, sai do soneto, dos (do/hen)decassílabos e cai, solta e fogosa, na redondilha, mudando o tom, o ritmo, o tema. “Vamos dançar a quadrilha. Cá estou eu prara teu par. Se tu seguras minha trilha, aqui estou pra te guiar.” (Sou teu olhar) E até aí fala de amor. E como poderia um poeta não falar de amor? Como poderia usar tantas formas rítmicas e sonoras, em belas composições, sem que esse sentimento não estivesse presente, não fosse a fonte de inspiração? Tempo-será, expressão totalmente temporal que nos remete a busca, procura, enigma, revela a beleza da poesia de Nilza Azzi. Poesia que não usa apenas as palavras. Seus capítulos, que aglutinam temas e sentimentos, exprimem-se apenas com figuras, que contam a história, o desenvolvimento de usa poesia. 22/04/2008 Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 03/07/2009
Alterado em 27/09/2013 |