Paulo Camelo

Poesia é sentimento. O resto é momento.

Textos


Sextina do olvido

Muito tempo esquecido andou meu verso,
outro tempo esquecido andei também.
Outro mundo habitei, fugi do mundo,
outra gente encontrei, e aqui estou eu.
Muita gente talvez já me esqueceu,
mas meu verso outra vez me trouxe aqui.

Quando a vida me quis tirar daqui,
eu voltei a cantar, recitar verso,
esse verso que nunca me esqueceu
e que é meu, pois o mundo é meu, também.
Qualquer dia, talvez, portanto, eu
vou mostrar-me pra todo o imenso mundo.

E, na volta que eu dou, girando o mundo,
eu retorno outra vez a estar aqui,
neste palco em que, finalmente, eu
posso abrir-me e mostrar meu parco verso
e cantar, e dançar, gritar, também,
pra esquecer um alguém que me esqueceu.

Mas meu verso - isso eu sei - não me esqueceu
e eu voltei a vagar por todo o mundo
a bradar que o amor, que é meu também,
volta e meia me faz voltar aqui
e escrever um soneto, ou trova, um verso,
a mostrar pr'esse mundo quem sou eu.

Mas pra que me mostrar? Acaso eu
vou mostrar a esse alguém que me esqueceu
um pedaço de mim, mostrar meu verso
e o reverso de mim, mostrar o mundo?
Hoje eu sei que meu mundo é este aqui
hoje eu sei que esse mundo é meu também.

Esse alguém que se foi deixou também
um pedaço de mim num outro eu
e jamais entendeu que, estando aqui,
entre a gente que nunca me esqueceu,
eu pudesse, talvez, voltar ao mundo
e formar meu lugar, meu universo.

Eu voltei pro meu verso, e vi, também,
que sou parte do mundo, sou mais eu,
deixo quem me esqueceu longe daqui.

10/02/2010
Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 10/02/2010


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