Discurso de posse na Abrames
Senhores da Abrames, amigos que eu tenho e que ainda terei, pois agora também eu me torno abramista, na vaga de quem já me fez seu amigo e é de lá donde venho, do meu Pernambuco, e que é homem de engenho e de arte, saber e cultura sem par, a quem presto louvor – me permitam falar –, Doutor Meraldo Zisman, que ocupa a cadeira quarenta e a quem hoje sucedo, e Deus queira que eu traga a esse Rio o Recife e seu mar. Meraldo é um homem que estuda o Nordeste, nas crônicas fortes que sabe fazer. Também nos ensaios se vê seu poder, e nesse mister ele logo se investe a falar de violência, esse cabra da peste que faz da caneta uma arma sem par. Sem meias palavras, se mostra exemplar também a lutar contra a desnutrição, um tema que aborda há mais tempo e que não descansa, sequer, como as ondas do mar. Mas sei que Meraldo não foi fundador da cadeira quarenta. Também o Nordeste deu outro doutor, outro cabra da peste que fez Paulo Afonso tornar-se esplendor. Teixeira Barbosa exerceu com amor e dedicação um mandato invulgar, prefeito que fez a cidade mudar, com saneamento e urbanização, jamais se esquecendo da educação, e hoje é nome de rua, na beira do mar. Falemos também com louvor do patrono Adroaldo Soares de Albergaria. Também do Nordeste, também da Bahia, também um político, sábio e humano. Poeta, ensaísta, traçou o seu plano de ação na tribuna, onde foi exemplar no conhecimento que fez divulgar. Não era político e médico apenas e nos seus poemas, que fez às dezenas, marcou o seu nome na beira do mar. Meraldo, que passa a cadeira pra quem no momento vos fala, hoje torna-se emérito, título nobre que assume por mérito, por sapiência e cultura, também. E quem o sucede não sabe se tem sequer competência pra nela assentar. Permitam, porém, que aqui possa eu falar um pouco de mim, o que sou, o que faço, antes que na quarenta eu descanse o meu braço e feliz ouça o som que me chega do mar, o mar que no meu Pernambuco eu conheço das cálidas águas, das quentes areias, das praias que temos também a mancheias, por onde o Brasil teve um dia o começo no Cabo de Santo Agostinho, e hoje eu teço essa minha oração, traço o meu palpitar de poeta intimista e – quem sabe? – mostrar nesses versos que trago, com ritmo forte, o que faço, o que escrevo e, com pouco de sorte, traduza o meu íntimo, mostre o meu mar. Eu sou recifense da gema. O que escrevo é porém diferente das loas que eu teço ao Recife que eu amo e que desde o começo do meu palpitar me desdobro em enlevo. No passo eu me embalo ao ouvir qualquer frevo, pois é do meu sangue o prazer de frevar. No baque do maracatu sei dançar, também na quadrilha e no coco eu me empenho, não vejo cansaço, vergonha eu não tenho dançando ciranda na beira do mar. Se sou sonetista – perguntam vocês –, respondo que sim, pois eu sinto o soneto tomar meu espírito, quando eu me meto a escrever, e a poesia me toma de vez o falar, o pensar, e me vejo, talvez, a dizer coisas simples no meu versejar e sentir que são belas canções. E esse ar que respiro de leve e me enche os pulmões transforma-se logo em mais inspirações, e eu faço sonetos, e eu canto o meu mar. Senhoras, senhores, amigos, aqui espero que eu tenha cumprido a missão. Aceitem do fundo do meu coração desculpas por tanto que eu quis e esqueci, pois nunca fui bom na oratória. E, se eu li, é que essa memória costuma falhar. Até meus sonetos não sei declamar sem ter um papel em que eu ponha a visão. Termino, portanto, essa minha oração cantada um galope na beira do mar. Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 30/11/2012
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