Nas casas do interior
Tomando a água fresquinha, eu mato essa sede insana, e muitas vezes se ufana de frescor essa quartinha. Uma agua pura... purinha, um gosto de barro, a pôr um maior gosto de amor num gesto simples, de fato, uma vida junto ao mato nas casas do interior. Existe casa na praia com janela para o mar, gozando a luz estelar, num céu rendado a cambraia. Fica lá na Marambaia essa casa que é um amor. Não é minha, não, senhor, porém poderia ser. Gosto muito de viver em casa do interior. Cantei cantiga de roda, escutei conto de fada, dei beijos na minha amada, e até inventei a moda, mas eu sei que não é fácil sustentar o destemor de viver sem ter pavor de duende ou Pererê. Mas vou mostrar pra você na casa do interior. Na noite de São João, comendo milho e canjica, a família toda fica ao redor do barracão soltando fogos. Na mão gostoso pé-de-moleque, a esperar que a goma seque pra fazer a tapioca. A mandioca traz o fervor nas casas do interior O menino pelo mato atira com seu bodoque. O seu pai, do corrimboque masca o seu fumo, e no prato, bebendo que nem um gato, com mel de furo e licor um gostoso lambedor. a canjica e o munguzá, ficavam no alguidar da casa do interior. Eu fui testando, testando, e não achei solução. Andava na contramão, mas não sabia até quando. Vi andorinhas em bando voando e fazendo amor, vi também um beija-flor bicando a rosa amarela, tudo isso da janela da casa do interior. Tem fogão que queima lenha, com chaminé, tudo mais, tem um lampião a gás, uma novilha já prenha, (prenhe) uma mata além, lá na brenha, e a capoeira limpinha... No quintal, muita galinha, criada com muito amor... Na casa do interior tem tudo isso... inteirinha! Eu vi estrela cadente, um atoleiro no chão, eu vi raio, eu vi trovão, tomei banho na nascente andei pra trás e pra frente, esperei a guiné pôr os ovos com todo amor e fui tirar co'a colher. É isso que a gente quer da casa do interior. É bonito, eu sei que é, falar de coisas da mente e sentir que, de repente, a coisa já toma pé, pega um ramo de sapé e começa a fazer teia pra cobrir parede-meia e dormir com nosso amor na casa do interior de carinho toda cheia. E esse chão cheio de estrelas - Silvio Caldas já cantou - uma chuva salpicou e eu não consegui mais vê-las e, não as vendo, não tê-las foi meu problema, senhor! Eu fiquei com meu amor agarradinho num canto encoberto com um manto na casa do interior. Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 23/05/2013
Alterado em 23/05/2013 |