Coroa de sonetos
O soneto é a forma mais bela de poema. Sua forma fixa, em 14 versos, com métrica e ritmo, ultrapassou os séculos e hoje, apesar e mesmo contra alguns adversários que não lhe dão o valor por não terem o conhecimento necessário, continua sendo o poema-maior.
Seus 14 versos compõem um poema estanque, e dizem tudo que se propõem dizer, na poesia, na forma, no conteúdo. Ultrapassar esta forma foi o desafio de vários poetas, sem que com isso fossem de encontro a seus princípios. Assim nasceu a coroa de sonetos. Por não ter como ultrapassar sua forma, foram utilizados seus versos para que se criassem novos sonetos, com forma, conteúdo, tema ligados ao soneto de que foram originados. Nasceria a coroa de sonetos. E ela nasceu com apenas 7 sonetos, feita por Afonso Felix de Souza, em tradução de soneto de John Donne, utilizados como prólogo aos "Holly Sonnets". E foi assim que foi colocado o verbete na "Encyclopedia of Poetry and Poetics": um conjunto de sete sonetos, apenas, entrelaçados, onde o último verso de um soneto é o primeiro do soneto seguinte, sendo o último verso do sétimo o primeiro verso do primeiro soneto. Mas assim sendo vista, a coroa estava incompleta. Geir Campos, em sua Coroa de sonetos, utilizou-se de 14 sonetos, a partir dos versos de um outro soneto. Sua coroa de sonetos, assim denominada, não fechou-se, ou seja, o último verso do último soneto não era o primeiro verso do primeiro soneto. Mas foi já a evolução. (Alguns sonetistas ainda hoje utilizam esta forma.) Edmir Domingues, a respeito, disse: "Na verdadeira coroa de sonetos há catorze sonetos interligados, onde o verso que fecha o primeiro começa o segundo, o que fecha o segundo começa o terceiro, e assim por diante, sendo o último verso do décimo quarto soneto o primeiro verso do primeiro soneto. E o décimo quinto soneto é a coroa, a coroa verdadeira, porque é composta dos catorze versos que começaram e terminaram os outros, sendo o primeiro verso da coroa o que terminou o primeiro soneto da série e o fecho o verso que a começou." Por ser de difícil confecção, poucos poetas (sonetistas) se aventuraram nesse desafio. A definição de Edmir Domingues é perfeita, podendo dela ser mudada apenas a posição dos versos utilizados na coroa. Enquanto ele preconiza que o último verso do soneto-base (ou coroa, como ele o denominou) seja o primeiro verso do primeiro soneto, há coroas de sonetos que iniciam com o primeiro verso do soneto-base e terminam com o mesmo verso, compondo o último verso do décimo quarto soneto, assim fechando a coroa (que também se fecha como preconizou Edmir Domingues, não ficando aberta como na coroa de Geir Campos e de outros seguidores). Embora a coroa de sonetos gire em torno de um único tema, cada soneto (estanque, como deve ser um legítimo soneto), não se distanciando do tema, tem o seu próprio subtema. Referência bibliográfica: CAMELO, PAULO. Contrastes - Coroa de sonetos. Recife: Barreto, 1992. ________. Coroa de sonetos da Via Sacra. Recife, Paulo Camelo, 2003. ________. Coroas de uma coroa. Recife, Bagaço, 2002. CAMPOS, GEIR. Coroa de Sonetos. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1953. ________. Pequeno dicionário de arte poética. Rio de Janeiro, Edições de Ouro, 1960. CARDOSO, PAULO. Coroa de sonetos do descobrimento. Recife: Comunigraf, 2000. DOMINGUES, EDMIR. Universo fechado ou o construtor de catedrais. Recife: Bagaço, 1996. ENCYCLOPEDIA of Poetry and Poetics. apud: DOMINGUES, EDMIR. Universo fechado ou o construtor de catedrais. Recife: Bagaço, 1996. FONSECA, JOÃO JUSTINIANO DA. Sonhos de João. Salvador: Ed. do autor, 1974. SOUZA, LISIEUX e CAMELO, PAULO. Coroas de sonetos a quatro mãos. Recife: Paulo Camelo, 2003.
Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 20/08/2005
Alterado em 13/08/2006 |