Carta a um amor distante
(De como se consegue enganar a saudade por mais algum tempo)
Nesta cidade tão longe de minha terra natal a saudade é meu tormento, a tristeza é o meu mal. Sinto saudades de todos, de tudo o que me cercava, do ar, da paisagem, do clima, das ruas por onde andava, do sol que brilhava sempre no inverno ou no verão, daquele calor ardente das praias do meu torrão. Sinto saudades do chão que queimava os meus pés; o chão que os meus pés queimava o meu semblante marcou. Eu tenho o semblante marcado pela terra em que nasci, pelo sol, pelo calor, por todo aquele amor que eu sinto me terem dado as pessoas a quem amo e que agora, tão distantes, não escutam quando eu chamo. Os dias aqui são frios, as noites são tão escuras, por aqui não passam rios que embelezem a paisagem que é seca, fria, inóspita, triste e não sei que mais; quero voltar ao Recife, quero rever os meus pais. Só é nisso que eu penso quando estou só em meu quarto: nesta cidade eu venço e um dia daqui eu parto de volta pra minha terra, o torrão que nos aquece e que a gente não esquece nem que viva uma eternidade. Meu amor, eu vou voltar. Não desesperes, querida, pois serei teu para sempre e te darei minha vida ou o resto de que falta (tu bem sabes de que falo), pois já te dei muita coisa e nessa hora não calo para aplacar a saudade que sinto em meu peito arder por viver aqui, distante de ti, este pequeno ser que é meu todo e que me ama e que vive a esperar o dia em que voltarei (não poderás respirar!). Meu bem, estou tão distante, já disse e repito até, mas quero que sintas quanto é grande o que te darei. O que te darei (ou já te dei) é imenso, enorme, estupendo (vê se consegues entender)! É meu amor, meu amor. São Paulo, 1971
Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 30/09/2005
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