A história do gringo e do vendedor de bode
Esta é uma história louca envolvendo uma mulher e dois homens. Coisa pouca, mas vou meter a colher. Um gringo teve uma briga com José pra ter Maria. Jamais ninguém saberia, porém deixem que eu lhes diga. Um triângulo amoroso a gente vê de montão quando acontece de não ser deveras perigoso como esse que ouvi contar parecendo capa e espada lá dos tempos da Cruzada, quando a luta era vulgar. Maria, moça donzela e seguidora das leis, escandalizou de vez a pequena cidadela onde morava com os pais e uma tia solteirona. Os pais, coitados, na lona; a tia, pobre demais. Foi quando a moça donzela interessou-se demais por um gringo e outro rapaz que moravam perto dela. O gringo, um homenzarrão, era bastante educado mas tinha um cuspir-de-lado que incomodava um montão. Era magro, alto, esguio, barba fechada no rosto. Não sei que Maria viu, mas caiu-lhe no seu gosto. Seu nome era Smith West, esquisito até demais; era defensor da paz mas também cabra da peste. O outro, um rapaz franzino, tinha por nome José; vivia atrás de mulher mas era muito menino. Vendia bode na feira e na folga era palhaço, saltimbanco de primeira e muito ágil no laço. Engraçou-se por Maria mas ela, muito fogosa e ladina, não deu prosa, não fez o que ele queria. Ela foi pro tal Smith mas esse viu que a donzela não conhecia limite e pra todos dava trela. Entraram todos no jogo do amor. Deu pra notar que Maria, em seu olhar, aos dois não quis negar fogo. E ficou um vai-não-vai, vai o gringo, vai José, que incomodou o pai, indo ver como é que é. Chamou Maria prum lado e lhe disse: “Minha filha, o louro é cabra danado, mas tem fogo na virilha e não vai levar barato o desacato dos dois. Veja logo, pra depois não jogar tudo no mato.” José, palhaço e laceiro, foi com o gringo se entender mas logo viu o porquê de Maria agir primeiro. O gringo, bem educado, apontou-lhe uma peixeira, chamou José de safado, perdeu logo a estribeira. O palhaço viu o aço alcançar sua virilha e ouviu dizer: “eu te faço um estrago aqui, seu filha...” Não esperou terminar. Correu mais de meia légua e não deu pras pernas trégua até o corpo cansar. Voltando, foi logo ter com o gringo inda outra vez. Um cano longo o fez ver o fim que teriam os três, e desistiu de Maria pr’outra coisa não perder. Deu pra vida mais valia e foi seus bodes vender. Qual Juliana de Gil, lá no parque, no domingo, Maria fugiu com o gringo e José nunca mais viu. Se foi capado, não sei, nem levou do 38 alguma bala (ou biscoito, dizem os fora-da-lei). Mas pra que saber daquilo se Maria não quer mais? Deixemos José em paz, para que morra tranqüilo. Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 27/03/2005
Alterado em 27/04/2006 |