Paulo Camelo

Poesia é sentimento. O resto é momento.

Textos

Chegou o inverno
“Os pássaros se foram... foi-se o estio...
chegou o inverno... já não cantam mais.”
(Nicolino Limongi, “Velha Faculdade”)

-----

As nuvens tomam todo o céu azul
e no horizonte o sol já se encobriu.
Janeiro, fevereiro, março, abril,
já chegou maio no hemisfério sul,
foi-se o outono, foi-se o corpo nu,
foi-se o verão, com seu calor voraz,
vestiu-se o corpo, foram-se os pardais,
usaram-se agasalhos contra o frio.
Os pássaros se foram... foi-se o estio...
chegou o inverno... já não cantam mais.

Nas tardes silenciosas já não há
guriatã cantando, o bem-te-vi
calou-se, já não vejo o colibri
beijando as flores, foi-se o sabiá.
A chuva chegou forte, pra ficar,
findando o outono desde o mês de abril.
Os pássaros se foram... foi-se o estio...
chegou o inverno... já não cantam mais.
Tudo é silêncio, cinza... o inverno traz
ao corpo todo enorme calafrio.

Enchentes, desabrigo, desvario,
visão que não esquecerei jamais.
O inverno traz a chuva e tira a paz
de quem não tem abrigo contra o frio.
Os pássaros se foram... foi-se o estio...
chegou o inverno... já não cantam mais.
Só se percebe o som que o vento faz
varrendo as folhas mortas do jardim.
Foi-se o perfume do imperial jasmim,
ficaram poças dágua nos quintais.

As festas barulhentas dos pardais
são só lembranças, como o céu de anil.
Os pássaros se foram... foi-se o estio...
chegou o inverno... já não cantam mais.
O céu azul que prenuncia paz
é coisa do passado. Agora o frio
provoca morte, leva ao desvario,
a chuva é uma constante neste inverno,
o meu jardim não tem nem malmequer,
no meu jardim nenhuma flor se abriu.

Os pássaros se foram... foi-se o estio...
chegou o inverno... já não cantam mais.
Canários, pintassilgos, cardeais
já não gorjeiam, já não dão um pio
à espera do verão, do desafio
de mais um céu azul e um tempo quente,
à espera de estação mais envolvente
enquanto a chuva fria ainda cai.
Chegou o inverno... mas ele se vai,
para que ouçamos cantos novamente.

18/05/2002
Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 31/03/2005


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras