Soneto monossilábico III
Sem pai nem mãe, sem pão, sem chão, sem lar,
sem ter a quem dar mais que um “oi”, sem ver que o céu não é mais céu (e não vai ser, pois o que vê é o pó que há no ar), que o céu e o mar já não têm mais a cor da paz, e mais e mais o breu do ar não dá mais vez à luz, sem ter pra dar de si a quem quer bem, se só tem dor, o que vai ter de bom, se o fim já vem? O que vai ter pra dar, se o mal e o bem têm no seu ser a cor do breu do ar? O que de mais vai ter que já não tem? O fim? O pó do ar? Pra dar a quem? Já não tem pai... Já não tem mãe... Tem lar?
Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 01/04/2005
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