Paulo Camelo

Poesia é sentimento. O resto é momento.

Textos

Depois de um copo de vinho
“Não precisa de sonhar.
Pode dormir descansado.”
(“Caldo verde”, Armando Sousa)

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Eu fui tomar um caldinho
com pirão e macaxeira.
Senti aquela leseira
na cabeça, ergui o vinho,
tomei um copo todinho,
e fui pra cama sonhar.
Mas comecei a escutar
alguém dizer ao meu lado:
“Pode dormir descansado;
não precisa de sonhar.”

Aquela voz, martelando
meu juízo, me deixou
um pouco borocoxô.
Não sei dizer até quando
assim fiquei, escutando
aquele som sussurrado:
“Pode dormir descansado;
não precisa de sonhar.”
E foi me faltando o ar,
e me quedei sufocado.

Logo acordei assustado
com aquilo que eu ouvi;
olhei prum lado e não vi,
mas ouvi do outro lado:
“Pode dormir descansado;
não precisa de sonhar.”
Levantei-me devagar
e fui direto ao banheiro,
pois não agüentava o cheiro
que passei a exalar.

E aquela voz a falar
que nem um disco quebrado:
“Pode dormir descansado;
não precisa de sonhar.”
E eu fui, então, me banhar
para voltar a dormir,
mas continuei a ouvir
aquela voz contundente
que me martelava a mente
depois de o vinho ingerir:

“Pode dormir descansado;
não precisa de sonhar.”
Não dava mais pra agüentar,
eu já estava ensopado
de suor, todo molhado,
sentindo enorme canseira
porque tomei de primeira
aquele copo de vinho
depois de ingerir caldinho
com pirão e macaxeira.
Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 02/04/2005


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