Depois de um copo de vinho
“Não precisa de sonhar.
Pode dormir descansado.” (“Caldo verde”, Armando Sousa) ----- Eu fui tomar um caldinho com pirão e macaxeira. Senti aquela leseira na cabeça, ergui o vinho, tomei um copo todinho, e fui pra cama sonhar. Mas comecei a escutar alguém dizer ao meu lado: “Pode dormir descansado; não precisa de sonhar.” Aquela voz, martelando meu juízo, me deixou um pouco borocoxô. Não sei dizer até quando assim fiquei, escutando aquele som sussurrado: “Pode dormir descansado; não precisa de sonhar.” E foi me faltando o ar, e me quedei sufocado. Logo acordei assustado com aquilo que eu ouvi; olhei prum lado e não vi, mas ouvi do outro lado: “Pode dormir descansado; não precisa de sonhar.” Levantei-me devagar e fui direto ao banheiro, pois não agüentava o cheiro que passei a exalar. E aquela voz a falar que nem um disco quebrado: “Pode dormir descansado; não precisa de sonhar.” E eu fui, então, me banhar para voltar a dormir, mas continuei a ouvir aquela voz contundente que me martelava a mente depois de o vinho ingerir: “Pode dormir descansado; não precisa de sonhar.” Não dava mais pra agüentar, eu já estava ensopado de suor, todo molhado, sentindo enorme canseira porque tomei de primeira aquele copo de vinho depois de ingerir caldinho com pirão e macaxeira.
Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 02/04/2005
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