Paulo Camelo

Poesia é sentimento. O resto é momento.

Textos

Sem pé nem cabeça
Num momento de loucura,
com todo arrebatamento,
fui formando um pensamento
que eu sei que é doidice pura
mas, também, ninguém segura
um doido quando ele quer
fazer o que lhe vier
à mente, nem reza forte,
nem apelando pra sorte,
mandinga, jogo, ou o que der.

Um pensamento qualquer
que se formou de repente
bem dentro da minha mente
tinha um nome de mulher.
Mas não sei como é que é
pensar mulher sem doçura,
sem imaginar a ternura
que toda mulher abriga,
sem se meter numa briga
de idéias, sem ter loucura.

E nisso ninguém segura
um louco no seu falar,
ninguém consegue calar
a sua alma, a essa altura;
ele pensa em coisa pura,
escreve frases sem nexo,
imaginando o reflexo
gravado no seu olhar,
e se põe a extravasar
o seu pensar desconexo

que mistura amor e sexo
com muita sabedoria;
outro não conseguiria
sem ser bastante complexo.
Ele põe tudo num leque só:
calor, frio, paixão, amor,
comiseração, temor,
em mistura desconforme,
um sarapatel enorme
de questionável teor.

Pensando ser sabedor
dos mistérios desta vida,
sem temor ele revida
as rimas de um cantador
e torna a se recompor
quando o outro o desacata
no repente, e sai à cata
de um argumento melhor;
olha bem ao seu redor
e se sai com uma bravata,

trazendo de longa data
fatos vivos na memória;
começa logo uma história
que, sem vacilar, relata,
pra ver se com isso mata
o mote do repentista;
com o olhar logo conquista
do povo toda a atenção
mas, pelo sim, pelo não,
foge da raia e despista.

E com essa idéia mista
de loucura e lucidez
eu tento mais uma vez
voltar ao que tinha em vista
falar, retomar a pista,
relembrar o que esqueci
de contar quando perdi
o fio da meada, o fato
que iniciou o relato
que eu queria pôr aqui.

Mas o pensamento, em si,
prega peça no poeta
que, assim, não chega à meta
e fica num frenesi,
frustrado, sem conseguir
dar forma àquela figura
etérea, beleza pura,
formada no pensamento
com todo arrebatamento
num momento de loucura.
Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 05/04/2005


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