Dois olhos cheios d’água
“Uma dor dentro do peito
e dois olhos cheios d’água” (Antonio W. de Siqueira, “Passado”) ------- Eu trago nas mãos a fé de viver vida melhor com muita gente ao redor pois a solidão não é o que procuro. Eu até ainda curto essa mágoa; ainda comigo trago, a dividir o meu leito, uma dor dentro do peito e dois olhos cheios d’água. É uma luta sem fim, um desperdício medonho, a vida com tanto sonho e eu tão tristonho assim. Mas não respondo por mim, mesmo que traga, sem jeito, uma dor dentro do peito e dois olhos cheios d’água a formar enorme lago, a molhar todo meu leito. Na solidão me sujeito a não ter inspiração, viver sem muita razão esse meu sonho imperfeito. Uma dor dentro do peito e dois olhos cheios d’água acompanham quando eu trago, a pulsar, meu coração, com toda a desilusão que dentro de mim deságua. Não sou feliz quando afago a solidão desse jeito. Uma dor dentro do peito e dois olhos cheios d’água ainda lembram a mágoa, a dor cruel que não traz um minuto só de paz e faz o meu coração viver a desilusão que cresce cada vez mais. Uma dor dentro do peito e dois olhos cheios d’água, a trazer um gosto amargo, a me deixar contrafeito, a não me atender o preito a que tanto me empenhei. Esta solidão, eu sei, irá rondar minha vida e manter viva a ferida em meu peito. Esta é a lei.
Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 04/06/2006
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