É preciso suar
“É preciso suar, ganhando o pão,
pra poder garantir que o pão é seu.” (Dedé Monteiro) Há quem diga que é só rezar "Pai Nosso" e o pão nosso diário cai na mesa. Há quem pense isso assim com tal certeza e, se o pão não lhe chega, tem um troço, e esbraveja, dizendo "eu já não posso agüentar essa vida". Então, me deu de falar nesses versos o que é meu pensamento a respeito. E eu digo: "Não!" É preciso suar, ganhando o pão, pra poder garantir que o pão é seu. Há quem faça algazarras pela rua e se esqueça do seu labor diário, o domingo preencha o calendário e, de banjo na mão, cultive a Lua. Outro dia amanhece, e continua a fazer-se demente e bonachão. É preciso suar, ganhando o pão, pra poder garantir que o pão é seu. Nâo se faça demente. Já morreu quem pensou desse jeito, sem um grão. Se o poeta Dedé fez, com razão, esse mote tão forte, então pergunto: o que eu faço calado? Vamos junto ao poeta, e com Ismael Gaião: "É preciso suar, ganhando o pão, pra poder garantir que o pão é seu". Nilza Azzi uma vez me surpreendeu, chamou Sonia Carrato e fez um verso, e Regina Medusa, do universo avisou todo mundo e sucedeu que essa glosa, que muito mal nasceu num repente, arvorou-se num roldão: É preciso suar, ganhando o pão, pra poder garantir que o pão é seu. Muita gente famosa apareceu e foi dando razão ao belo mote. Eu tentei rematar mas, com que dote? A danada da verve foi-se em rio e, pra não escrever um desvario, precisei de parar, que ninguém note. É preciso suar, ganhando o pão, pra poder garantir que o pão é seu. E quem dessa labuta se esqueceu volte logo ao trabalho, porque não vai cair lá do céu, como oração, sem suor, sem trabalho, sem labuta o seu pão. É precisa muita luta, é preciso o suor caindo em bica. É geral: gente pobre e gente rica, ao trabalho, que nem filho da mãe.
Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 11/08/2012
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